“Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.”
– Apóstolo Paulo em 1 Timóteo 6:6-8
A expressão “últimos dias”, tão presente nas Escrituras, frequentemente gera confusão e até receio. Muitos a conectam diretamente ao fim do mundo, a cenários caóticos e a grandes catástrofes. No entanto, uma análise bíblica equilibrada revela uma perspectiva diferente: os “últimos dias” não apontam apenas para um evento futuro distante, mas descrevem o período em que já estamos vivendo.
O Que São Realmente os “Últimos Dias”?
Contrário ao senso comum, a primeira vinda de Jesus Cristo inaugurou o que a Bíblia chama de “últimos dias”. Vivemos em uma era especial, marcada pela tensão entre o Reino de Deus que “já” chegou e o Reino que “ainda não” se manifestou em sua totalidade.
- O “Já”: O Reino foi estabelecido pela vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Ele atua hoje, transformando corações, renovando a esperança e habitando em nós pelo Espírito Santo.
- O “Ainda Não”: A plenitude do Reino aguarda a volta de Cristo. Enquanto isso, ainda convivemos com as marcas do pecado, da dor e da morte no mundo.
Compreender isso nos liberta do medo paralisante do futuro e nos impulsiona a viver com propósito no presente. Não somos chamados a uma espera passiva, mas a uma participação ativa no Reino de Deus aqui e agora, como embaixadores de Cristo, levando Sua mensagem de amor e esperança a um mundo necessitado.
Cristo: O Ponto Culminante e a Nossa Missão Atual
Textos como Hebreus 1:1-2 e 1 Pedro 1:20 são claros: Jesus Cristo é a revelação final e definitiva de Deus à humanidade. Sua vinda marca o clímax da história da salvação e o início destes “últimos dias”.
Portanto, a era da Igreja – o tempo em que vivemos – é um tempo de oportunidade crucial. Somos chamados a:
- Proclamar o Evangelho;
- Fazer discípulos;
- Viver segundo os valores do Reino de Deus.
Advertências Bíblicas: Chamado à Vigilância, Não ao Pânico
A Bíblia não esconde as dificuldades deste período. Somos alertados sobre características marcantes dos últimos dias:
- Aumento da iniquidade;
- Esfriamento do amor genuíno;
- Apostasia (abandono da fé);
- Proliferação de falsos ensinamentos e falsos profetas. (Ver Mateus 24:10-12; 2 Tessalonicenses 2:3; 1 Timóteo 4:1)
Essas advertências, porém, não devem gerar pânico ou nos levar a especulações sobre datas e teorias conspiratórias. São, na verdade, um forte chamado à vigilância e à sobriedade espiritual.
O próprio Jesus, em diversas ocasiões (Mateus 24:36, 42-44; Marcos 13:32-37; Lucas 21:34-36), frisou que ninguém sabe o dia ou a hora de Sua volta. O foco deve ser outro: estar preparado. Isso implica em:
- Viver com moderação e equilíbrio espiritual;
- Orar constantemente;
- Perseverar na fé, mesmo em meio às dificuldades;
- Buscar a santificação dia após dia.
Discernimento Espiritual: Navegando os Tempos com Sabedoria
Para vivermos bem neste período, o discernimento espiritual é uma ferramenta indispensável. Precisamos ser capazes de identificar os “sinais dos tempos”, mas sem cair na armadilha do sensacionalismo ou de interpretações extremistas e desequilibradas.
O verdadeiro discernimento bíblico se fundamenta em:
- Estudo consistente da Palavra de Deus;
- Oração e busca pela direção do Espírito Santo;
- Aconselhamento com cristãos maduros e experientes;
- Uma cosmovisão firmemente alicerçada na Bíblia.
Não se trata de buscar significados ocultos em cada notícia, mas de analisar a realidade à luz das Escrituras, com equilíbrio, sabedoria, humildade e coragem. Devemos aspirar ser como os “filhos de Issacar”, que “tinham entendimento da época, para saberem o que Israel devia fazer” (1 Crônicas 12:32).
Vigilância na Prática: Reconhecendo os Desafios de Hoje
A Bíblia está repleta de exortações à vigilância e ao discernimento (veja, por exemplo, 1 Pedro 5:8-9; 1 João 4:1-6; Provérbios 2:1-6; Hebreus 5:13-14). Como isso se aplica hoje? Precisamos discernir e nos posicionar diante de desafios como:
- Seitas e movimentos que distorcem o Evangelho de Cristo;
- A “teologia da prosperidade” pregada de forma desequilibrada, focada apenas em bens materiais;
- Falsos ensinos que negam doutrinas centrais da fé, como a divindade de Cristo;
- A crescente banalização da vida e o desrespeito à dignidade humana;
- O relativismo moral que busca minar os valores e princípios bíblicos;
- A perseguição religiosa, sutil ou explícita, que se intensifica em diversas partes do mundo.
Conclusão: Vivendo com Urgência e Esperança, Sem Medo
Entender os “últimos dias” como a era presente, inaugurada por Cristo, nos chama a uma vida de vigilância constante e discernimento apurado. Não é tempo para medo ou alarmismo, mas para uma fé ativa, madura e engajada com a realidade.
Que possamos viver com a urgência de quem sabe que o tempo é oportuno para servir a Deus, mas com a paz e o contentamento de quem confia Naquele que já venceu o mundo e que controla toda a história. Estejamos atentos, firmes na fé e focados em viver de maneira que agrade ao Senhor, aguardando com esperança a Sua gloriosa volta.
Que o Eterno te abençoe
Do servo menor
Pr. Davi Secundo de Souza