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Da Antiga à Nova Páscoa: Reflexões sobre Libertação e Redenção na Tradição Judaico-Cristã

Nesta época do ano, em que muitos celebram a Páscoa, somos convidados a refletir sobre os profundos significados que esta data carrega, enraizados em eventos históricos e espirituais de imensa relevância. A tradição cristã celebra a ressurreição de Jesus Cristo, mas esta celebração está intrinsecamente ligada a uma instituição ainda mais antiga: a Páscoa judaica, memorial da libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Examinar ambas as celebrações revela uma notável continuidade e um aprofundamento do plano redentor de Deus.

A Páscoa do Egito: Memorial da Libertação Física

Instituída por Deus através de Moisés na noite que antecedeu a saída dos israelitas do Egito, a Páscoa original (Pessach, em hebraico) foi um marco fundamental na história de Israel. O livro de Êxodo detalha as instruções divinas para aquela noite dramática. Cada família deveria sacrificar um cordeiro sem defeito e aspergir seu sangue nos umbrais e na verga das portas de suas casas. Este sangue seria o sinal que protegeria os primogênitos de Israel da décima praga, o anjo destruidor que feriu os primogênitos egípcios.

A ordem divina era clara, conforme registrado em Êxodo 12:13-14:

Além do cordeiro, os israelitas deveriam comer pães ázimos (sem fermento), simbolizando a pressa da partida, e ervas amargas, recordando a amargura da escravidão. A Páscoa tornou-se, assim, uma celebração anual obrigatória, um memorial perpétuo da poderosa intervenção divina que libertou Seu povo da opressão e o conduziu à Terra Prometida. Era um ato de fé, obediência e lembrança constante da salvação física operada por Deus. Como instruído em Êxodo 12:26-27:

“O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito. E este dia vos será por memorial, e o celebrareis por festa ao SENHOR; através das vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo.”

“E quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou.”

A Nova Páscoa: A Ceia do Senhor e a Redenção Espiritual

Séculos mais tarde, durante a celebração de uma ceia pascal em Jerusalém, Jesus Cristo, Ele mesmo judeu, deu um novo e mais profundo significado a esta antiga festa. Na noite em que foi traído, reunido com Seus discípulos, Jesus instituiu o que conhecemos como a Ceia do Senhor ou Santa Ceia. Utilizando os elementos da refeição pascal – o pão e o vinho – Ele os ressignificou, apontando para Si mesmo como o cumprimento da promessa redentora.

O Evangelho de Lucas 22:19-20 relata este momento solene:

“E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue derramado por vós.”

Aqui, Jesus Se apresenta como o verdadeiro Cordeiro Pascal, cujo sacrifício na cruz, no dia seguinte, não livraria apenas um povo de uma escravidão física, mas toda a humanidade da escravidão do pecado e da morte. O pão partido representa Seu corpo entregue; o cálice com vinho representa Seu sangue derramado, selando uma “nova aliança” entre Deus e os homens, não baseada mais em rituais externos, mas na fé em Seu sacrifício vicário.

O apóstolo Paulo reforça a natureza memorial e proclamatória desta nova celebração em 1 Coríntios 11:23-26:

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.”

Paulo também faz a ligação explícita entre Cristo e o cordeiro pascal em 1 Coríntios 5:7:

“Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.”

Lições Perenes para Nossos Dias

Ao contemplarmos estas duas instituições, a Páscoa do Egito e a Ceia do Senhor, extraímos lições valiosas:

  1. A Realidade da Redenção: Ambas apontam para a necessidade humana de redenção e para a iniciativa divina em provê-la. Deus age poderosamente para libertar Seu povo, seja da escravidão física no Egito, seja da escravidão espiritual do pecado.
  2. O Custo do Sacrifício: A libertação exige um sacrifício. Na antiga Páscoa, era o cordeiro imolado cujo sangue protegia; na nova Páscoa, é Cristo, o Cordeiro de Deus (João 1:29), cujo sangue purifica de todo pecado.
  3. A Importância da Memória: Ambas as celebrações são memoriais. Somos chamados a não esquecer os grandes atos salvíficos de Deus, a manter viva a gratidão e a fé através da lembrança e da proclamação.
  4. A Comunidade da Fé: Tanto a Páscoa original quanto a Ceia do Senhor são atos comunitários, vividos em família ou na congregação, fortalecendo os laços de fé e pertencimento ao povo de Deus.
  5. A Esperança Futura: A Páscoa apontava para a Terra Prometida; a Ceia do Senhor aponta para a volta de Cristo e a consumação final do Reino de Deus (“até que ele venha”). Ambas nutrem a esperança em um futuro de plena comunhão com Deus.
  6. Obediência pela Fé: A salvação na noite da Páscoa egípcia dependeu da obediência em aplicar o sangue; a salvação oferecida por Cristo é recebida pela fé e obediência à Sua Palavra.

Nesta Páscoa, ao refletirmos sobre esses eventos fundantes, que possamos compreender mais profundamente o amor redentor de Deus manifestado desde o Egito até a cruz do Calvário. A antiga Páscoa preparou o caminho; a Ceia do Senhor nos convida a participar continuamente da salvação oferecida por Jesus Cristo, o nosso Cordeiro Pascal, cuja morte e ressurreição celebramos com esperança e gratidão.

Com eterna gratidão a Cristo Jesus, nosso Senhor, Aquele que me salvou, a quem pertencem todo o louvor, honra, glória e adoração, hoje e para sempre, pelos séculos dos séculos.

 

Pr. Davi Secundo de Souza

 

Espaço para comentar:

Respostas de 8

  1. Grande reflexão a Páscoa apontando para a terra prometida nos dando uma visão de libertação e a ceia apontando para Cristo !!

    Deus abençoe nosso líder Pr Davi secundo o senhor e sua família 🙌🏽

  2. Excelente ensinamento sobre a páscoa e o cordeiro Pascal.
    Agradecemos a Deus e ao nosso líder, Pr. Davi, que Jesus Cristo o abençoe sempre mais.

  3. Pastor Davi Secundo, sempre edificando nossas vidas.
    Deus continue abençoando sua vida e sua família.

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